terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Influencia do Cristianismo em Roma



A INFLUENCIA DO CRISTIANISMO EM ROMA
Os romanos ultrapassaram todos os outros povos na sabedoria singular de compreender que tudo está subordinado ao governo e direção dos deuses. Sua religião, porém, não se baseou na graça divina e sim na confiança mútua entre Deuses e Homens; e seu objetivo era garantir a cooperação e a benevolência dos deuses para com os homens e manter a paz entre eles e a comunidade. Entende-se por religião romana o conjunto de crenças, práticas e instituições religiosas dos romanos no período situado em tre o século VIII a.C. e o começo do século IV da era cristã. Caracterizou-se pela estrita observância de ritos e cultos aos deuses, de cujo favor dependiam a saúde e a prosperidade, colheitas fartas e sucesso na guerra. A piedade, portanto, não era compreendida em termos de experiência religiosa individual e sim da fiel realização dos deveres rituais aos deuses, concebidos como poderes abstratos e não como Divindades Antropomórficas. Um traço característico dos romanos foi seu sentido prático e a falta de preocupações filosóficas acerca da natureza ou da divindade. Seus preceitos religiosos não incorporaram elementos morais, mas consistiram apenas de diretrizes para a execução correta dos rituais. Também não desenvolveram uma mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses; seu caráter legalista e conservador contentou-se em cumprir com toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos, organizados como atividades sociais e cívicas. O ceticismo religioso chegou a ser uma atitude predominante na sociedade romana em face das guerras e calamidades, que os deuses, apesar de todas as cerimônias e oferendas, não conseguiam afastar. O historiador Tacitus comentou amargamente que a tarefa dos deuses era castigar e não salvar o povo romano. A índole prática dos romanos manifestou-se também na política de conquistas, ao incorporar ao próprio panteão os deuses dos povos vencidos. Sem teologia elaborada, a religião romana não entrava em contradição com essas deidades, nem os romanos tentaram impor aos conquistados uma doutrina própria. Durante a república, no entanto, foi proibido o ensino da Filosofia Grega, porque os filósofos eram considerados inimigos da ordem estabelecida. Os valores dominantes da cultura romana não foram o pensamento ou a religião, mas a retórica e o direito.
Com as crises econômicas e sociais que atingiram o mundo romano, a antiga religião não respondeu mais às inquietações espirituais de muitos e, a partir do século III a.C., começaram a se difundir religiões orientais de rico conteúdo mitológico e forte envolvimento pessoal, mediante ritos de iniciação, doutrinas secretas e sacrifícios cruentos. Nesse ambiente verificou-se mais tarde a chegada dos primeiros cristãos, entre eles os apóstolos Pedro e Paulo, com uma mensagem ética de amor e salvação. O cristianismo conquistou o povo, mas seu irrenunciável monoteísmo chocou-se com as cerimônias religiosas públicas, nas quais se baseava a coesão do estado, e em especial com o culto ao imperador. Depois de sofrer numerosas perseguições, o cristianismo foi reconhecido pelo imperador Constantinus I no ano 313 d.C. São escassas as fontes que permitem reconstruir a vida da primitiva Roma, pequena cidade-estado que se formou por volta do século VIII a.C. A descrição mais antiga é do historiador romano Marcus Terencius Varrão, do século I a.C., mas seu testemunho já mostra a grande influência da Cultura Grega, que motivou a reinterpretação da tradição religiosa. No período de formação original, a religião dos romanos já apresentava características utilitárias, em que as preocupações se centravam na satisfação das necessidades materiais, como boas colheitas e a prosperidade da família e do estado em tempo de paz e de guerra. Entre os deuses mais importantes dessa época estão Júpiter, deus do céu, o maior deles; Marte, deus da guerra; Quirino, protetor da paz, identificado depois com Romulus; e Juno, cuja função principal era dirigir a vida das mulheres. Outras deidades menores eram figuras vagas de funções limitadas e claramente definidas. Como os deuses maiores, tinham poderes sobrenaturais e, pelo culto adequado, podiam ser induzidos a empregá-los em benefício dos adoradores. A curiosidade dos romanos, porém, não passava desse ponto: os deuses não tinham mitos, não formavam casais e não tinham filhos. Os romanos não tinham também uma casta sacerdotal; seus ritos eram executados com meticulosa exatidão por chefes de família ou magistrados civis. Essas atividades clericais, porém, eram reguladas por colégios sacerdotais.
Na segunda metade do século VI a.C., os Etruscos conquistaram a cidade de Roma e introduziram nas práticas religiosas o culto às estátuas dos deuses, os templos, a adivinhação mediante o escrutínio das entranhas de animais sacrificados e do fogo e maior solenidade nos ritos funerários. O primitivo calendário religioso lunar, de dez meses, foi substituído pelo calendário solar de 12 meses. Nesse período ocorreu a incorporação de deuses que não eram apenas etruscos. Júpiter ganhou como consortes Juno e Minerva, uma união que resultou da influência grega, já que as duas deusas foram identificadas como Hera e Atena, mulher e filha de Zeus. Vênus e Diana surgiram de fontes italianas. Entre os deuses incorporados ao panteão romano por influência etrusca estão Vulcano, deus do fogo, e Saturno, divindade de funções originais obscuras. O Período Republicano, do século V ao século I a.C., caracterizou-se pela ampliação da influência da cultura grega, cujos mitos revitalizaram os deuses romanos ou introduziram novas divindades, como Apolo, que não tinha um equivalente romano geralmente reconhecido, e Esculápio. Outro costume importado da Grécia foi convidar os deuses para o banquete sagrado, o Lectisternium, no qual eram representados por suas estátuas e associados em casais, como Júpiter e Juno, Marte e Vênus etc. As figuras juntas nos banquetes formaram o grupo grego popular e típico de 12 deuses. Foram introduzidos ainda cultos orgiásticos do Oriente Médio, como o da deusa Cibele, a Grande Mãe, e o de Dioniso, que em Roma foi identificado como Baco. O imperador Augustus quis reavivar os cultos tradicionais - ele mesmo foi divinizado após a morte - e reconstruir os templos antigos. A crescente demanda por uma religião mais pessoal, porém, que nem as religiões tradicionais gregas nem as romanas eram capazes de satisfazer, foi atendida por vários cultos do Oriente Médio, que prometiam a seus seguidores o favor pessoal da divindade e mesmo a imortalidade se certas condições fossem atendidas, entre elas a iniciação secreta em ritos misteriosos. O primeiro deles foi o de Ísis que, embora de origem egípcia, sofreu modificações em sua passagem pela Grécia. Depois veio o culto de Atis, consorte da Grande Mãe, e por último o de Mitra, de origem Persa, que se tornou o predileto dos soldados romanos. No último período do Império Romano, desenvolveu-se de forma particular o culto ao Sol, e o imperador Aurelianus proclamou como suprema divindade de Roma o Sol Invicto. Mas essas tentativas de reavivar uma religião que sempre servira aos interesses do estado fracassaram, ante a expansão do Cristianismo que, em 391, foi declarado religião oficial do estado pelo imperador Theodosius I, que suprimiu o culto tradicional.
Neste período o estado teve problemas enormes, pois o comércio vivia da exploração dos deuses pagãos, dificultando assim a situação financeiras de artesãos e vendedores de estatuas. E também dos diversos templos que existiam afetando a economia.

O fim da perseguição
A perseguição da igreja antiga durou pouco mais de dois séculos e meio. Em 313 o imperador Constantino assinou (juntamente com Licínio, que governava no oriente) o famoso "Edito de Milão" que punha fim a toda a perseguição religiosa, proclamava o cristianismo como religio licita (religião legal), além de conceder plena liberdade religiosa para todos os habitantes no império.
NOTA: Edito é um decreto (ordem) emitido pela autoridade máxima, que estabelece um regulamento com valor legal e irrevogável.
Por causa de muitos fatores políticos e sociais, e também do que se considerava ira dos deuses, na época em que Constantino se tornou imperador o bem-estar do império romano se tornava cada vez mais precário. Dizia-se que os deuses estavam infelizes por causa da religião dos cristãos, que se recusavam a oferecer-lhes sacrifícios. Por esta razão, como vimos, a igreja sofreu as piores perseguições entre 250 e 311.
Mas o Espírito Santo de Deus amparou a Igreja. Alguns que abandonavam a igreja por causa da perseguição começaram a voltar. O evangelho começou a entrar nos círculos sociais importantes (na corte imperial, no exército e nas classes mais altas). Enquanto isso, a unidade do império parecia depender cada vez mais da existência de uma religião oficial fundada no tripé um Deus, um império e um imperador. E no lugar de persegui-lo, parece que só restava ao império reconhecer o poder do Deus que agia no cristianismo.
Conversão de Constantino e início da Igreja imperial
Quando se tornou imperador em 312, o império se achava dividido. Tendo usurpado o poder depois da morte de seu pai, ele tinha pretensões de unificar o poder e chegar ao poder máximo. Seu inimigo nessa corrida veio a ser o filho do ex-imperador Maximiano, chamado Maxêncio, que também se fez proclamar monarca em Roma. Constantino marchou então, com essa finalidade, em direção a Roma até estacionar seus exércitos na outra margem do rio Tibre. Apenas uma ponte, a Ponte Mílvea, separava seus exércitos dos exércitos de Constantino. Temendo ser vencido, Constantino teria evocado a ajuda do Deus dos cristãos, que numa visão lhe teria revelado o segredo da vitória. Usando o sinal da cruz de Cristo nas suas armaduras, seus exércitos teriam vencido Maxêncio. Desde então o imperador começou a tomar medidas que favoreceram a religião cristã, até que em 316 se tornou a única e oficial.
Teria Constantino se convertido a fé cristã ao favorece-la? Há duas interpretações. A primeira diz que de fato se converteu, tornando-se mesmo um ardente cristão; a segunda, que ele decidiu usar o poder agregador do cristianismo para vantagens políticas. De acordo com o historiador Earle Cairns, "Constantino cria que a 'adoração a Deus' deveria ser o 'primeiro e o principal cuidado' do governante, por isso ele pensava que não podia haver outra alternativa senão a liberdade religiosa como política do império".
Tanto um quanto outro desses fatores justificam as medidas de Constantino que elevaram o cristianismo à religião lícita e mais tarde oficial em todo o império. Estabeleceu uma sociedade em que deveria haver uma adesão universal a uma religião comum, o cristianismo. Para isso tomou algumas medidas essência: a) no ano 321 proclamou o domingo como dia oficial do descanso para culto; b) deu aos bispos autoridade sobre certas responsabilidades civis, como julgar intrigas litigiosas entre os membros da igreja e fazer casamentos com validade civil; c) liberou verbas para construção de templos, que passaram a se chamar de "basílicas" (de basileus = do reino, portanto, igrejas imperiais); d) estabeleceu dias festivos cristãos de interesse público, como o natal de Cristo; e) transferência, aos poucos, da data do nascimento de Jesus de 6 de janeiro para 25 de dezembro , o dia do nascimento do deus sol, deus de Constantino.
Este processo de favorecimento político do cristianismo pode ser chamado de imperialização da igreja, que foi o primeiro passo em direção a histórica união do estado e a Igreja Católica Romana. Houve conseqüências positivas e negativas no processo. Em primeiro lugar, positivamente, o processo abençoou o cristianismo com o total fim da perseguição dos cristãos em todo o império; em segundo lugar, negativamente, entraram para a igreja muitos pagãos sem uma genuína conversão ao evangelho de Cristo; como resultado, várias práticas, crenças e doutrinas religiosas pagãs se infiltraram na igreja (=paganização ou secularização da igreja), que começou a se esfriar e perder seu entusiasmo e visão típicas da Igreja Primitiva.
O paganismo e suas conseqüências na Igreja. A influência dos costumes e das práticas religiosas pagãs aumentavam na igreja à medida em que o tempo passava. A mentalidade mágica típica das religiões pagãs tornou-se comum entre os "cristãos". Alguns sacramentos, como a ceia do Senhor, eram cada vez mais vistos como tendo poderes mágicos. Por outro lado, o desafio de ainda permanecer um verdadeiro cristão numa igreja invadida pelo paganismo, favoreceu a propaganda do exemplo dos antigos cristãos que morreram por causa da sua fidelidade a Cristo. Deste modo teve início da veneração dos mártires como santos (mais tarde também suas imagens e relíquias). Por causa do baixo nível moral no império que também se aprofundava, o desafio da santidade levou alguns bispos à prática de exigir confissão auricular, que prescrevia penitências (obras que valem como punição difícil) aos crentes em pecado. Finalmente, muitos líderes importantes da igreja (bispos e teólogos), sedentos de poder, começaram a lutar para ampliar suas influências e poderes políticos e jurídicos.
Conseqüências da Perseguição
Como conseqüência da perseguição aconteceram três coisas importantes: um grande crescimento da igreja e o surgimento de dois tipos de literatura: as biografias ou testemunho dos mártires e manuais de defesa da fé cristã.
Martirologos. Os "atos dos mártires" descreviam o exemplo de fidelidade dos cristãos que se recusavam a apostatar da fé e adorar o imperador; descreviam ainda como eram presos, torturados, queimados, decapitados, exilados ou entregues aos animais para serem devorados em circos públicos. O amor de muitos cristãos pelo reino de Deus e pelo salvador Jesus Cristo era tal que procuravam mesmo o martírio como forma de testemunhar do Evangelho.
Graças aos "atos de martírio" é conhecido o testemunho de perseverança de notáveis homens e mulheres de Deus, especialmente no segundo século. Os mais notáveis foram Inácio, bispo de Antioquia, morto em 115, Policarpo, bispo de Esmirna, morto em 156 e Justino "o Mártir", morto em 165.
Crescimento da Igreja. A segunda conseqüência importante foi o crescimento de igreja. Certa vez o teólogo cristão Tertuliano, importante defensor da fé nessa época, escreveu que o sangue dos cristãos é a semente da igreja. Quanto mais eram perseguidos, mais os cristãos se sentiam encorajados a testemunhar as glórias da fé cristã. Disto resultou um crescimento que assombrava as autoridades romanas ao verificarem o fato. O imperador Trajano chegou a ordenar que se parasse a matança dos cristãos porque quanto mais eram mortos, mais corriam para o martírio como as abelhas correm para as colméias.
No fim do terceiro século, estima-se que a população da igreja oscilava entre 5 e 15 por cento da população do império, que girava em torno de 50 a 75 milhões de pessoas. A terceira conseqüência foi a defesa da fé, que discutiremos mais adiante.
Oficialização da igreja pelo Estado Romano
O fim da perseguição levou ainda à oficialização formal do cristianismo como religião oficial civil do império no século V. Depois da morte de Constantino, venerado na igreja ortodoxa como décimo terceiro apóstolo de Cristo, e no cristianismo católico ocidental como "Magno" (grande), veio uma série de imperadores que ou trabalharam para consolidar as reformas religiosas iniciadas por Constantino, ou tentaram restaurar os cultos pagãos através da pugnação do cristianismo. O imperador Juliano, o Apóstata (361-363), foi particularmente quem mais fez para devolver o império ao paganismo. Numa guerra contra os persas, morreu desiludido depois de ver fracassados seus esforços. Ao expirar, teria reconhecido a vitória de Cristo com as célebres palavras "Venceste Galileu!".
Chegara ao trono imperial Teodósio, que em 380 assinou uma série de Editos que oficializaram o cristianismo como religião civil da sociedade romana. Entre outras coisas, (a) proscreveu como ilegais todos os cultos pagãos no império; (b) considerou heresia condenável, também pela lei civil, qualquer doutrina que divergisse da genuína doutrina cristã dos apóstolos. Assinou um decreto que proibiu oficialmente os "hereges" de realizarem reuniões públicas, evocou para eles o juízo divino e promulgou punição civil para eles. De perseguida a igreja cristã se tornou perseguidora dos hereges. Depois dele, o império dividiu-se entre o oeste (derrubado e subdividido mais tarde pelos germanos no ano 486) e o leste. No leste (parte orienta), com o imperador Justiniano (527-565), a igreja foi totalmente submetida ao estado e se tornaria igreja do império romano. Veremos que o cristianismo acabará dividido também seguindo a divisão do império.
Relembremos o que aprendemos nesta parte. A característica mais notável da Igreja Primitiva foi sua rápida expansão. Depois do Pentecoste, o Espírito Santo levou os primeiros cristãos a uma grande determinação missionária que levou o evangelho tanto a judeus quanto aos gentios espalhados no império romano. Paulo e Barnabé foram os mais notáveis missionários do primeiro século. O rápido crescimento dos cristãos, bem como seus hábitos e práticas santas, incomodou os pagãos a ponto de persegui-los. O imperador Nero começou a onda de perseguição localizada contra os cristãos, que se tornou universal nos reinados de Décio e Diocleciano. Contudo, a conseqüência da perseguição veio a ser exatamente o inverso do que pretendiam os inimigos do Espírito que atuava na igreja. O cristianismo cresceu com a perseguição. E ao terminar a perseguição com Constantino, ela se tornou na única religião do império.
Joel Felipe de Paula

Um comentário:

Unknown disse...

que quer dizer a igreja imperial 313 ate 476 dc